quarta-feira, 29 de julho de 2020

ZEN BUDISMO E SÃO JOÃO DA CRUZ

 

ZEN BUDISMO E SÃO JOÃO DA CRUZ - NOITE ESCURA DA ALMA

(ALBERT LOW – A PRÁTICA DO ZEN E O CONHECIMENTO DE SI MESMO)


TEXTO I


          São João diz que o seu livro não se destina a todo mundo, mas apenas a certos membros da Ordem do Monte Carmelo. De maneira semelhante, o que eu estou oferecendo é destinado particularmente a pessoas como você, que estão trilhando um caminho espiritual autêntico. Vocês estão seguindo a tradição Rinzai, que insiste em que o praticante venha a conhecer, por si mesmo, a verdade de que todos somos inteiros e completos. Vocês participam do sesshin ou de retiros, e, como acabei de dizer, é durante um retiro, em especial um retiro de sete dias, que você realmente vivencia o que São João está dizendo. Isso não significa que é apenas durante a época de retiro que esse conselho pode ser aplicado. Mas é provável que sejam os retiros, ou talvez algum reverso repentino da sorte, que precipitem a entrada na noite escura da alma.


DIFICULDADE NA PRÁTICA

           À medida que você avança na prática, certas crises ocorrerão, momentos em que parece faltar o chão. As crises acontecem por causa da meditação, embora geralmente se possa querer atribuir-lhes uma causa mais mundana. Mas, quando você medita de verdade, está se entregando a uma reavaliação total do seu modo de vida, uma reavaliação da base até mesmo do modo como você vê o mundo, a si mesmo e aos outros. Isso significa que muito daquilo que você agora valoriza poderá parecer-lhe insípido e fútil, que as coisas que você buscou poderão perder o sentido. Isso também acontece quando você era uma criança que estava entrando na adolescência. Nessa época você também teve de abandonar seus brinquedos, a total dependência de sua mãe e a segurança que ela lhe dava, as coisas de que gostava e de que não gostava, enfim, tudo o que refletia os seus valores na época. Essa e outras ocasiões da vida, que alguém chamou de "passagens", evocam sensações de insegurança, falta de confiança em si mesmo, ansiedade e muitos outros sentimentos confusos e dolorosos. Esses também são tempos de noite escura. 

        Você reclama que sua vida se tornou insossa, que tem um constante sentimento de opressão e ansiedade afetando até mesmo o seu sono. Você diz que parece estar perdido e imagina se a sua prática de algum modo tem sido imperfeita ou se você foi abandonado. Esses são os sintomas de alguém que entrou na noite escura. Foi por essa razão que eu lhe sugeri São João. Em um trecho muito forte, ele enfatiza que, quando as pessoas "têm uma visão de relance dessa vida concreta e perfeita do espírito - que se manifesta na ausência completa de toda doçura, na aridez, no desprazer e nos muitos testes que são a verdadeira cruz espiritual -, fogem dela como da morte".


OS OBSTÁCULOS À PRÁTICA

           São João faz uma distinção entre os iniciantes e os mais avançados no caminho, a quem ele denomina “progressivos”. Os iniciantes, diz ele, avançam no caminho por meio da meditação; os progressivos, por meio da contemplação. Ele aponta para o fato de que, como os iniciantes podem não ter sido preparados pela prática do trabalho enérgico nas virtudes, eles geralmente apresentam muitos erros e imperfeições. Esses erros e imperfeições são obstáculos que os impedem de compreender a verdadeira natureza da situação; portanto, eles tendem a praticar pelos benefícios, “pelo consolo e prazer que encontram na prática”. São João discute assim essas imperfeições de modo que possamos entender o valor real de passar pela noite escura, já que é exatamente essa passagem que purifica a alma de todas as imperfeições a que ele se refere.

         

         TEXTO II

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