segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

PUREZA - Thomas Merton - Amor e Vida




Em vez de dizer que um ato é puro quando você dele elimina tudo o que é material, sensual, carnal, emocional, apaixonado, etc., diremos, ao contrário, que o ato sexual é puro quando dá um lugar legítimo ao corpo, aos sentidos, às emoções (conscientes ou inconscientes), às necessidades especiais da pessoa, tudo o que é exigido pela relação única entre os dois amantes e o que  é exigido pela situação a qual se encontram.  O objetivo não é estabelecer, da maneira mais formalista possível, a legalidade plena de seu ato de amor, mas liberar neles toda a capacidade de amor e de expressão de amor que seriam verdadeira e plenamente autênticos, em suas circunstâncias peculiares. E isso, naturalmente, seria decidido não tanto por normas legais abstratas (as quais, entretanto, têm sua função objetiva e seu papel na orientação do indivíduo), mas também pela consciência e pela decisão pessoais à luz da graça e das exigências providenciais do seu amor.
            Aqui se deve afirmar claramente que um amor erótico desinibido entre pessoas casadas não só pode ser puro, como também mais puro do que um ataque angustiado, constrangido e doloroso de um marido atrapalhado à sua esposa inerte e paciente. O ato de amor sexual deveria, por sua própria natureza, ser alegre, descontraído, vivo, calmo, inventivo e cheio de um deleite especial que os amantes aprenderam com a experiência a criar um para o outro. Não há dom mais belo de Deus do que o pequeno mundo secreto de amor e expressão criativa no qual duas pessoas que se entregam totalmente uma à outra manifestam e celebram seu dom mútuo. É precisamente nesse espírito de celebração, gratidão e alegria que se encontra a verdadeira pureza. O coração puro não é o que tem terror do eros, mas aquele que , com a confiança e o abandono de um filho de Deus, aceita esse dom como um propósito sagrado, pois o sexo é também um dos talentos que Cristo nos deixou para aproveitarmos até que Ele volte. Bem compreendida, a união sexual é uma expressão de profundo amor pessoal e um meio de aprofundamento, aperfeiçoamento e santificação desse amor. Buscar gratificação sexual como um fim em si mesmo e sem a devida consideração par com as necessidades do seu parceiro tornaria quase impossível essa verdadeira pureza de amor. Portanto, fica imediatamente evidente que a noção de pureza no amor só pode ser totalmente garantida por um sentido desenvolvido e maduro de sacrifício pessoal pelo bem do outro e com o fim de satisfazer às exigências mais profundas e mais desafiadoras da situação. Aqui a pureza do amor será descoberta, não pela aplicação mecânica de normas meramente externas, mas por uma integração prudente e até inspirada de liberdade pessoal e exigências objetivas, de modo que o ato de amor desabroche numa expressão mais fecunda e criativa de vida e de verdade. É claro que tal pureza deve ser julgada objetivamente, não apenas pelas necessidades e desejos subjetivos dos amantes; e o critério de julgamento objetivo será, por exemplo, a inteireza do ato de amor. Será puro o ato do qual se poderá dizer que, em todos os seus aspectos, respeita a verdade e a integridade, as verdadeiras necessidades de o bem mais profundo daqueles que dele participam, assim como as exigências objetivas de outros, da sociedade, etc.
            Por esse critério, certas interpretações casuísticas, que permitiram uma atividade sexual mórbida e truncada como ainda legalmente “pura”, serão consideradas uma afronta à autêntica inteireza e pureza do homem. Outras que, de certo ponto de vista, poderiam chocar e escandalizar  mentes convencionais podem, não obstante, responder a uma exigência profundamente autêntica e espiritual de integridade e pureza interior. Mas não podemos dizer que se deixa a pessoa isolada inteiramente entregue ao seu próprio juízo em cada caso. A suprema corte de apelação não é a liberdade subjetiva, que pode facilmente se tornar arbitrária e levar a tantas mutilações quanto o legalismo. A marca do amor é o seu respeito pela realidade e pela verdade e sua preocupação com os valores que deve cultivar, preservar e aumentar no mundo. Tal preocupação não é compatível com a fantasia, o capricho ou a desconsideração dos direitos e das necessidades das outras pessoas.
            Nessa nova abordagem da pureza, a ênfase será mais sobre o amor do que sobre a lei, não tanto sobre o que acontece com a natureza ou com as partes do corpo como sobre o que se desenvolve na pessoa (embora neste caso as duas sejam manifestamente inseparáveis). Devemos considerar não tanto o que é aceitável no meio social, mas o que fornecerá de fato uma solução criativa e intimamente pessoal para as questões apresentadas em caso especial.
            Este conceito de pureza não é portanto um conceito em que duas pessoas buscam se amar em espírito, em que usam todos os recursos do corpo, da mente, do coração, da imaginação, da emoção e da vontade a fim de celebrar o amor que lhes foi dado por Deus e, ao  fazê-lo, louvam-No!
           

Thomas Merton – Amor e Vida

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