sexta-feira, 31 de julho de 2020

ZEN BUDISMO E SÃO JOÃO DA CRUZ - ORGULHO


ZEN BUDISMO E SÃO JOÃO DA CRUZ - NOITE ESCURA DA ALMA

(ALBERT LOW – A PRÁTICA DO ZEN E O CONHECIMENTO DE SI MESMO)


TEXTO II



ORGULHO


        A primeira barreira à união de que trata São João é o orgulho. O orgulho não é apenas uma barreira que bloqueia todos nós de um modo ou de outro; de todos os pecados, ele é o mais difícil de ultrapassar e o mais persistente. Mesmo depois de um profundo Kensho, ele ainda pode ser um problema, que fica óbvio, por exemplo, quando se lê Hakuin. Hakuin lutou heroicamente durante um longo período e finalmente alcançou a verdade. Ele disse: “Foi como se um pedaço de gelo fosse esmagado ou se uma torre de jade caísse com estrondo.” Todas as suas antigas dúvidas desapareceram como se o gelo tivesse derretido. Então, ele disse: “Meu orgulho elevou-se como uma montanha majestosa, minha arrogância subiu como a maré.”

          No entanto, o nosso orgulho nem sempre é tão ruidoso e óbvio. São João aponta para o fato de que ele frequentemente pode ser uma espécie de orgulho secreto que surge no coração de uma pessoa, e por causa disso fica satisfeita consigo e com sua prática. Esse  tipo de orgulho é mais ou menos insuperável porque, em geral, impede as pessoas até mesmo de fazer parte de um grupo, o que não dizer de visitar um mestre. Como diz São João, “Elas  se sentem  compelidas a conversar com outras pessoas a respeito das coisas espirituais o tempo todo e até mesmo a passar seu tempo ensinando os outros, em vez de aprender por si mesmas”, mas raramente têm a coragem de fazer a um mestre uma pergunta verdadeira ou de expor-se de algum modo. Nas poucas ocasiões em que fazem isso, não escutam a resposta; mas, enquanto ela está sendo dada, olham pelo canto do olho esperando a oportunidade para fazer alguma objeção, ou ridicularizar de algum modo a resposta, ou emitir algum outro sinal de sua insatisfação e desprezo.

          São João aponta para o fato de alguns discípulos estarem tão ansiosos para serem elogiados e estimados em tudo o que fazem que, se o mestre não aprovar o que estão fazendo, consideram-no fraco, com compreensão ou espiritualidade insuficiente. Então, eles imediatamente procuram outra pessoa que combine com suas preferências. Querem apenas estar com pessoas que os estimem e os elogiem, e fogem, como da morte, daqueles que tentam corrigi-los e leva-los para um caminho seguro, chegando até mesmo a alimentar o desejo de que algum mal lhes aconteça. Esse tipo de pessoa está cheio de resoluções a respeito do que deve realizar, mas de fato não faz muita coisa que valha a pena. Seria de muito mais valia, diz São João, se essa pessoa sentisse que o mestre e os outros não se importam com ela.

          Ele diz, que, às vezes, o orgulho pode levar algumas pessoas a trabalharem mais que as outras e a sentir que são as únicas realmente virtuosas. Para convencer as outras de que são muito espiritualizadas, representam um papel, praticam com diligência quando percebem que estão sendo observadas e fazem tudo o que podem para ser notadas. Elas aproveitam cada oportunidade para caluniar as outras, “observando o cisco no olho do irmão e ignorando a trave no seu próprio olho, arrancando o mosquito do outro enquanto elas próprias engolem um camelo”. Elas sempre desprezam o outro, criticando sua prática porque ela não está de acordo com suas próprias ideias a respeito do que se deve fazer, e por isso assemelham-se ao fariseu que se vangloria de si próprio, louvando a Deus por suas boas ações e desprezando o publicano.

          O orgulho pode fazer que algumas pessoas, por um lado, ignorem suas faltas como algo sem consequência e, por outro, paradoxalmente, fiquem muito desconsoladas ao perceber que são de fato punidas com falhas e dificuldades porque acreditavam que já estavam acima desse nível de problemas. Assim, elas geralmente ficam muito impacientes, até mesmo zangadas, consigo mesmas e com suas imperfeições. Como tem tanta pressa de chegar aonde não estão, nunca realmente sabem onde estão. Elas não tem chão firme para pisar, nenhum contato consigo mesmas; portanto sua prática é uma espécie de sonho dentro do sonho.


TEXTO I  

TEXTO III


quarta-feira, 29 de julho de 2020

ZEN BUDISMO E SÃO JOÃO DA CRUZ

 

ZEN BUDISMO E SÃO JOÃO DA CRUZ - NOITE ESCURA DA ALMA

(ALBERT LOW – A PRÁTICA DO ZEN E O CONHECIMENTO DE SI MESMO)


TEXTO I


          São João diz que o seu livro não se destina a todo mundo, mas apenas a certos membros da Ordem do Monte Carmelo. De maneira semelhante, o que eu estou oferecendo é destinado particularmente a pessoas como você, que estão trilhando um caminho espiritual autêntico. Vocês estão seguindo a tradição Rinzai, que insiste em que o praticante venha a conhecer, por si mesmo, a verdade de que todos somos inteiros e completos. Vocês participam do sesshin ou de retiros, e, como acabei de dizer, é durante um retiro, em especial um retiro de sete dias, que você realmente vivencia o que São João está dizendo. Isso não significa que é apenas durante a época de retiro que esse conselho pode ser aplicado. Mas é provável que sejam os retiros, ou talvez algum reverso repentino da sorte, que precipitem a entrada na noite escura da alma.


DIFICULDADE NA PRÁTICA

           À medida que você avança na prática, certas crises ocorrerão, momentos em que parece faltar o chão. As crises acontecem por causa da meditação, embora geralmente se possa querer atribuir-lhes uma causa mais mundana. Mas, quando você medita de verdade, está se entregando a uma reavaliação total do seu modo de vida, uma reavaliação da base até mesmo do modo como você vê o mundo, a si mesmo e aos outros. Isso significa que muito daquilo que você agora valoriza poderá parecer-lhe insípido e fútil, que as coisas que você buscou poderão perder o sentido. Isso também acontece quando você era uma criança que estava entrando na adolescência. Nessa época você também teve de abandonar seus brinquedos, a total dependência de sua mãe e a segurança que ela lhe dava, as coisas de que gostava e de que não gostava, enfim, tudo o que refletia os seus valores na época. Essa e outras ocasiões da vida, que alguém chamou de "passagens", evocam sensações de insegurança, falta de confiança em si mesmo, ansiedade e muitos outros sentimentos confusos e dolorosos. Esses também são tempos de noite escura. 

        Você reclama que sua vida se tornou insossa, que tem um constante sentimento de opressão e ansiedade afetando até mesmo o seu sono. Você diz que parece estar perdido e imagina se a sua prática de algum modo tem sido imperfeita ou se você foi abandonado. Esses são os sintomas de alguém que entrou na noite escura. Foi por essa razão que eu lhe sugeri São João. Em um trecho muito forte, ele enfatiza que, quando as pessoas "têm uma visão de relance dessa vida concreta e perfeita do espírito - que se manifesta na ausência completa de toda doçura, na aridez, no desprazer e nos muitos testes que são a verdadeira cruz espiritual -, fogem dela como da morte".


OS OBSTÁCULOS À PRÁTICA

           São João faz uma distinção entre os iniciantes e os mais avançados no caminho, a quem ele denomina “progressivos”. Os iniciantes, diz ele, avançam no caminho por meio da meditação; os progressivos, por meio da contemplação. Ele aponta para o fato de que, como os iniciantes podem não ter sido preparados pela prática do trabalho enérgico nas virtudes, eles geralmente apresentam muitos erros e imperfeições. Esses erros e imperfeições são obstáculos que os impedem de compreender a verdadeira natureza da situação; portanto, eles tendem a praticar pelos benefícios, “pelo consolo e prazer que encontram na prática”. São João discute assim essas imperfeições de modo que possamos entender o valor real de passar pela noite escura, já que é exatamente essa passagem que purifica a alma de todas as imperfeições a que ele se refere.

         

         TEXTO II

KARMA: eles merecem? - Ajahn Santikaro

  KARMA: eles merecem? (Reflexões sobre o atentando ao World Trade Center) Por Ajahn Santikaro Tradução: Centro Buddhista Nalanda Tr...