DESEJO POR FAMA
(Mestre Zen Seung Sahn - A Bússola do Zen)
O “desejo por fama” é algo
muito interessante. Mais ainda do que o desejo por sexo, é ele que carrega o
maior potencial para tornar a mente impura. A maioria das pessoas é apegada a
nome e forma. Todos acreditam que “eu sou”. Essa é uma ilusão básica. Nome e
forma não têm natureza própria e esse “eu” não existe. Ambos são inteiramente
criados pelo pensamento. Mas os seres humanos não se contentam com isso. Eles
querem mesmo é que essa ilusão do “eu sou” torne-se cada vez maior, o tempo todo.
“Eu sou isso”. “Eu sou aquilo”. “Eu sou um professor brilhante.” “Eu sou um
ator famoso.” “Eu sou amigo de fulano e beltrano.” E não se sentem felizes até
que os outros reconheçam este “eu sou” e sejam, também, controlados por ele. Na
Coreia do Norte, a fonte de crença de um homem no “eu sou”, controla, por
completo, a mente de milhões de pessoas mesmo muitos anos após a sua morte! Se
você não acredita neste “eu sou,” poderá até mesmo ir para a cadeia ou morrer.
Que loucura! Todos os dias nesse mundo, pessoas matam pessoas, simplesmente
para proteger seus nomes e reputação. E o sofrimento que é gerado a partir
desse impulso não está limitado aos ditadores ou aos criminosos: na maioria dos
casos nós competimos impiedosamente uns com os outros na nossa vida diária, com
o único propósito de promover o nosso “eu sou” sobre as outras pessoas.
Mentimos e enganamos. Discutimos e falamos mal uns dos outros não apenas para
nos tornarmos famosos, mas para mostrarmos que o meu “eu sou” é, de alguma
maneira, melhor. E toda essa dor e sofrimento vem tão somente de um único
pensamento ilusório ao qual somos todos muito apegados: “eu sou.”
As pessoas passam por muito trabalho para alcançar e manter uma alta posição
social. Farão coisas vergonhosas devido ao apego a este pensamento totalmente
vazio. Certa vez. Na Coreia, uma mulher da alta classe teve um caso amoroso.
Seu marido era ministro do governo. Ela se envolveu com um homem cuja fama era
a de ser um Don Juan. No começo, seu único interesse era passar o tempo com
aquele homem. Mas, à medida que o tempo transcorria, ele passou a
requisitar-lhe dinheiro, carros e joias. Ameaçou-a de, caso não fizesse o que
mandava, trazer o caso a público. Com medo de perder sua posição social, ela
dava o que ele pedia. Deixou que a controlasse inteiramente, pios ele tinha sob
seu controle o maior medo dela. Finalmente a mulher foi à bancarrota, fazendo
vir à tona seu comportamento escandaloso. Sua reputação foi arruinada e, como
consequência, ela sentiu como se sua vida tivesse também acabado. Muitas vezes,
pensou em cometer suicídio. Tudo isso foi resultado do seu apego ao prazer
temporário e completamente vazio ganho através da aprovação dos outros. Quando
falamos em “desejo por fama”, não estamos falando apenas do desejo de tornar-se
conhecido por várias pessoas. A grande parte das pessoas, quando ouve falar
nisso, pensa ser essa uma impureza da mente só de pessoas famosas. Mas, em
verdade, esse é o mesmo desejo que temos por algum tipo de aprovação social,
respeitabilidade ou popularidade com as pessoas. Desejo esse que é causa de
constante sofrimento do nosso dia-a-dia. Sofremos quando os outros não pensam
bem de nós. Ficamos enciumados quando as outras pessoas aprovam alguém de que
não gostamos. Às vezes, até falamos mal da pessoa para diminuí-la. Adaptamos e
mentimos a fim de ganhar a aprovação dos outros. Não queremos ser “deixados de
fora.” Na Ásia, muitas são as pessoas que se vestem bem e tentam mostrar aos
outros o seu bem-estar material, mesmo que sejam pobres. É com uma competição
do “eu”. Eu conheci um homem que tinha um carro muito bom e se vestia com rupas
caras, embora trabalhasse num pequeno escritório sem ganhar lá tanto assim.
Queria que os outros pensassem que ele era bem sucedido na vida. Em casa, tinha
de negar à família certas coisas básicas, fazendo os filhos sofrerem com um
padrão social falso, a fim de pode pegar pela tão desejada aprovação social. Da
mesma forma, no Japão e na Coreia, muitas pessoas exercem tremenda pressão
sobre seus filhos desde o momento em que nascem, para que ingressem em uma boa
universidade, somente pelo que isso mostrará sobre os seus pais. Todos os anos,
vários alunos japoneses e coreanos suicidam-se por não haverem logrado um lugar
em uma universidade de gabarito e terem envergonhado seus pais. Tudo isso
provém da ilusão básica da mente (apegada) num “eu sou,” uma ilusão que as
pessoas aplicam a si mesmas e aos outros.
No entanto, se você meditar corretamente, perceberá que esse “eu” em verdade,
não existe. E já que esse “eu” não existe, então o que é que pode se tornar
famoso ou ganhar aprovação dos outros? Se as pessoas se dessem conta de que
esse “eu” não existe, não sofreriam tanto – e tampouco causariam tanto
sofrimento a outros – a fim de conferir alguma reputação ou fama a esse “eu”.
Tampouco se importariam quando outra pessoa parecesse mais querida do que elas
próprias: o ciúme dos outros não apareceria. Esse “eu” simplesmente não existe
em lugar algum. É por isso que, se você meditar, compreenderá que o desejo pela
fama é uma impureza.