quinta-feira, 6 de agosto de 2020

ZEN BUDISMO E SÃO JOÃO DA CRUZ - Raiva e Gula Espiritual


    

ZEN BUDISMO E SÃO JOÃO DA CRUZ - NOITE ESCURA DA ALMA

(ALBERT LOW – A PRÁTICA DO ZEN E O CONHECIMENTO DE SI MESMO)


TEXTO III


RAIVA E GULA ESPIRITUAL 




RAIVA

          São João diz que o segundo maior erro normalmente acompanha a nossa prática é a raiva, o furor. Algumas pessoas podem dirigir essa raiva para a própria prática e para qualquer pessoa associada com ela. Como elas praticam para ter algumas sensações ou experiências agradáveis, muitas ficam amargas quando o deleite nas coisas espirituais chega ao fim, e suportam a falta de doçura que têm de suportar com uma má vontade que afeta tudo o que fazem. Elas ficam irritadas com as menores coisas, a ponto de ninguém poder tolerá-las. Outro alvo dessa irritabilidade é a realização das outras pessoas; elas ficam vigiando o outro com uma espécie de zelo ansioso, às vezes sentindo-se obrigadas a corrigi-lo com raiva e colocar-se como as mestras do zelo.

          Se essa raiva não foi dirigida ao outro, geralmente será dirigida para elas próprias, quando perceberem suas imperfeições. Geralmente impacientam-se tanto consigo mesmas que podem ser “santas de um dia’. Tomam grandes decisões em relação ao que pretendem realizar. No entanto, tem pouca humildade e nenhum receio em relação a si próprias. Quando mais tomam decisões, maior a sua queda e maior o seu aborrecimento porque, nas palavras de São João, “elas devem ter paciência para esperar pelo que Deus lhes dará quando Lhe prouver”. Como dizia um mestre Zen: “Não faço nada o dia todo, mas não deixo nada sem fazer.” Isso é trabalho feito com toda a humildade, permitindo que cada momento revele a sua necessidade, e é bem o oposto do trabalho feito forçada e esforçadamente, usando a energia do desejo e a agressão como forças motivadoras.


 GULA ESPIRITUAL

          Outro problema é a gula espiritual, da qual sofrem muitos iniciantes. Nos primeiros estágios da prática, a pessoa é assaltada por uma espécie de doçura. Alguns podem ficar muito apegados a essa sensação e, por isso, não procuram pureza espiritual e discrição. Como consequência, elas muitas vezes chegam a extremos, ultrapassando os limites da moderação pelos quais as virtudes dão adquiridas e em que elas consistem. Algumas pessoas, atraídas pelo prazer que encontram nisso, castigam-se com penitências, enquanto outras se enfraquecem com jejuns mais longos do que sua fragilidade aguenta. Essas pessoas são as mais imperfeitas e desarrazoadas porque estabelecem castigos físicos em vez de sujeitar-se à razão e à discrição, que é um sacrifício mais aceitável e agradável para Deus. Como diz São João: “Todos os extremos são viciosos e, ao comportar-se assim, as pessoas estão operando a própria vontade; elas crescem no vício, e não na virtude, porque estão desenvolvendo gula espiritual e orgulho ao trabalhar dessa maneira.”

          A penitência aumenta o sentimento de que se está no controle, de ser aquele que faz as coisas. Essa sensação de estar no controle é muito agradável, mas, ao mesmo tempo, é precisamente ela que constitui o maior bloqueio e que tem de se abandonada na prática.

          Para continuar com a sensação de que estão no controle, as pessoas mudam ou variam o que lhes foi proposto como prática ou acrescentam-lhe alguma coisa. Qualquer obediência é para elas tão amarga que algumas abandonam inteiramente a prática porque recebem a incumbência dessa prática e não de outra, enquanto o seu único prazer e desejo é faze aquilo que se sentem inclinadas a fazer. São João continua dizendo: “Essas pessoas insistem muito para que o mestre lhes conceda o que querem, extraindo isso quase à força; e se lhes for recusado, elas ficarão tão impertinentes como crianças pequenas.”




TEXTO II





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